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Tudo na vida é questão de escolha, e eu nunca vou entender como é que eu fiz para ser tão certeira nesta escolha que fiz.

Há quatro anos atrás chegou em São Paulo o gaúcho mais legal do mundo, com algumas caixas, uma mochila e uma guitarra nas costas.

A nossa casa era pequena, velha e alugada com a junção dos nossos salários mínimos. Nela, tinha apenas um colchão de solteiro e um sofá-cama. Nos primeiros dias não tinha nem energia elétrica e a gente tomava banho na água fria, mas nunca fomos tão felizes.

Ele trabalhava em casa e eu há 20 minutos de lá.

Almoçávamos juntos quando dava e eu passava a hora do almoço no bosque com ele, fazendo planos e sendo feliz.

Aos poucos as coisas foram se ajeitando. Dificuldades apareceram e foram embora, porque juntos não temos limites - embora esse tal de limite seja insistente a gente sempre conseguiu colocar ele pra correr.

Nem sempre foi fácil, mas a gente conseguiu. 

Hoje, depois de quatro anos, temos três gatos engraçadinhos, um apartamento legal, uma moto que é nossa maior companheira, um amor que não para de crescer e a certeza de que a escolha de quatro anos atrás foi a melhor que poderíamos ter feito na vida. E as dificuldades? Isso é só o resto, e resto é resto.

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Sem Título #090



Coisas para se fazer numa noite de chuva

- Aprender a ler
- Olhar para o teto
- Expandir o vocabulário (porque chega de 'mano' e todas aquelas palavras que se aprender na prisão, né?)
- Fazer sexo 
- Assistir a novela
- Procurar no Google a função do fone de ouvido
- Ficar no 'face'
- Ouvir funk

Nesta madrugada, enquanto tentava dormir, eu fiz mentalmente uma lista infinita de coisas que as pessoas poderiam fazer que não incomodasse, mas ao invés disso, eis a lista do que preferiram fazer:

- Ficar no hall do prédio falando alto além do horário permitido. 
- Também tem aquele vizinho do térreo do outro prédio que enche a cara e/ou se droga e fica berrando palavrões horrorosos.
- O vizinho do apartamento de cima do meu fica arrastando coisas durante a noite - talvez seja alguma tipo de hobby bizarro.

Eu não sei quanto tempo essa coisa toda durou essa noite, mas veja bem, quando fui tentar dormir era umas 10h30 da noite e as 3h20 da madrugada eu ainda não tinha conseguido.

O que mais desanima nisso tudo é o sacrifício que foi e ainda está sendo feito pra comprar esse apartamento incrível nesse lugar de merda.

É desanimador perceber quantidade de coisas que eu poderia estar fazendo mas não estou porque ao invés disso estou no sufoco com o namorado tentando pagar esse apartamento.

Depois dessa noite maravilhosa eu penso: 'ótimo, pior que isso não fica, certo?'

Errado!

Sou uma moça motociclista que não tem aquela roupa de chuva linda que motociclistas usam, sendo assim, toda aquela chuva de hoje de manhã ainda está aqui, dentro do meu coturno e na minha calça que ainda está úmida - as quatro da tarde.


Eu acho que a gente poderia ter uma cota diária de aborrecimentos para que a vontade de desistir de tudo não fosse assim, tão constante.




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