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Gerson

Eu gostava de ir à igreja. Naquela época em que a gente é bobinha e acredita em tudo. Na verdade, acho que era mais carência do que outra coisa, porque as pessoas me tratavam bem, ao contrário lá de casa e da escola (porque minhas relações eram um caos). Podem falar o que quiserem da igreja católica, mas eles são bem receptivos, a verdade seja dita.

Tinha um cara, o Gerson, ele era velhão já, talvez mais velho que o meu pai, e era tido como uns dos que tinham o "dom do espírito", e andava com o pessoal mais novo, dos encontros de jovem, retiros e tal. E esse pessoal era bem animado e se juntava nos fins de semana pra sair pra comer pizza e rezar terços nas casas das pessoas que precisavam/queriam e eu ia junto. E o Gerson também ia, porque ele tinha o dom e com esse dom deitava as pessoas ao chão com o chamado "espírito santo", aquele ocorrido que faz as pessoas cairem nas igrejas e cultos, e falarem coisas indecifráveis. Sempre que aconteciam esses encontros,  lá ia o Gerson no meio dos jovens, deitar as pessoas no chão colocando a sua mão com cheiro de cigarro em suas fuças.

Num domingo a tarde, ele me ligou, me convidando pra ir no shopping dar uma volta. Achei estranho, porque afinal a gente nem se falava, mas enfim, perguntei quem ia, "Todo o pessoal" - ele disse.

"Ótemo! Vamolá!"

Saio no portão de casa, e bem, tem só um carro, e só ele...
"-Ué, cadê o resto do pessoal"
- A gente já passa na casa deles.
- Ah tá.."

E eu acreditei.

E a gente chega no shopping e ele tentando me beijar e me pegando na mão e aquele cheiro de cigarro e eu bem puta da vida querendo bater a cabeça daquele infeliz  na parede.


Ele, o cara que não saia da igreja e que tinha o "dom", e que era um milagre por ter saído das drogas e estar limpo há sei lá, 3 anos.

Após muita insistência ele aceita me levar de volta pra casa. Nunca contei isso pro meu pai, porque se ele soubesse ficaria bem maluco.

Depois desse dia, nunca mais voltei na igreja.

Fé na humanidade, não trabalhamos.


*Nota: O nome do cara é Gerson mesmo, e não tem nenhuma relação com aquela música do Bidê ou Balde

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Sem Título #058

"Ame-se o bastante para cuidar do seu corpo com boa alimentação, relaxamento e atividade física. Tenha controle sobre seus pensamentos, emoções e ações. Pratique meditação. Redigir um diário, nos mantém em contato com nossos pensamentos e passa a ser um tipo de meditação. Satisfação no trabalho é essencial para a saúde. Quando se faz o que gosta, não se trabalha, se diverte. Tenha mais contatos sociais. Ter animal de estimação, é saudável. Conheceremos o amor incondicional. Assistir filmes de amor, aumentam os níveis de imunoglobina. Perdoar, para ficar livre do medo. Tumores cancerosos ficam atrofiados quando troca-se a mágoa pelo perdão. O amor incondicional representa o mais poderoso estimulante do sistema imunológico. O amor cura!"
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Melhor Impossível





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Sem Título #057

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Better luck next time...

500 days of summer
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Sem Título #056

"Ás vezes eu queria que você fosse um desconhecido, para eu te conhecer e me encantar com você de novo"


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Sem Título #055

Eu matei uma pessoa.


Não sabia o que fazer com aquele corpo que já estava começando a feder, estava ficando louca quando resolvi levá-lo para o fundo do quintal onde passei parte da minha infância.


Ele repetia que aquilo era loucura, que eu não deveria tê-lo matado, mas agora já era tarde. Ele já estava morto
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Definição

"- Você poderia  me dizer, por gentileza, como é que eu faço para sair daqui?
- Isso depende muito de para onde você pretende ir - disse o gato.
- Para mim tanto faz para onde quer que seja...- respondeu Alice.
- Então pouco importa o caminho que você tome - disse o gato."
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Sem Título #054

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Sem Título #053

e dai que eu tenho um namorado que poe a mesa do café da manhã todos os dias e hoje, ao lado da minha xícara verde tinha um chocolate trufado. assim, do nada.


desculpaê.

Sem Título #052

e não importa quantas vezes você pergunte pra pessoa como ela está se sentindo ou como está indo o dia que ela nunca vai te perguntar como você está.
ela vai dizer que está tudo bem, vai falar das inúmeras tarefas do dia e o assunto morre ai.
e ela jamais vai te perguntar como você está. ela jamais quer saber como você está.
sabe aquela história de dar sem esperar receber nada em troca? comigo não acontece.
é claro que eu quero tudo em troca. ou sou legal à toa?
é claro que não faço as coisas com o único intuito de querer tudo de volta, não é isso, que fique claro. 

eu só queria ter a mesma importância que eu dou às pessoas.

fim.

(você é uma pessoa de coração bom e jamais pensaria em fazer as coisas querendo algo em troca? aham, cláudia, senta lá.)
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Sem Título #051

E eu morro um pouco a cada dia que passa.
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Sem Título #050

Frase de msn da minha irmã de 12 ANOS:


"Me chama de telescópio que eu te faço ver estrelas".

Nota Mental # 05

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Sem Título #049

Sem Título #048

É engraçado como a gente se entende só de olhar um pro outro e não é preciso dizer nada, não é preciso reclamar da música ruim do colega da mesa do meio da sala, porque a gente se olha e sabe.

Lembrei agora de como também é legal o jeito que ele sabe que eu estou brava só de ouvir o barulho dos teclados e como ele nota que eu não tô legal e me pergunta por que estou "murchinha".

E de como, só olhando a gente mostra um pro outro coisas engraçadas que vemos no metrô, no ônibus, na rua, com toda a discrição desse mundo.

Eu poderia ficar horas dizendo coisas, mas pra resumir:

A gente se entende perfeitamente. E não é preciso dizer nada.

Eu gosto disso.
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Notas Mentais # 03

Aproximações podem ser complicadas. Devem-se estar preparado pra tudo, inclusive para se levantar caso as coisas deem errado, para dor que vem caso você seja ignorado, para o sentimento de fracasso, porque você pode não ser good enough.

=|
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Nota Mental # 02

O problema é o excesso de simancol. Eu tenho tanto medo, mas tanto medo de ser incoveniente que eu acabo me colocando pra baixo demais e julgando cada atitude minha, nem sempre da melhor forma, achando que poderiam ter sido melhor elaboradas.

Meta: Reduzir o simancol em 50% no próximo mês.




(Ou seja: fazer/falar o que der na telha e foda-se \o/).
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Sem Título #047

Dai você se encontra aos 20 anos uma completa loser, o que esperar daqui pra frente então?
Já que em tudo foi um fracasso, onde achar ânimo pra prosseguir?


"Wishing to be dead when hope is gone
Depreciating life when the days are looking bad


Sick of being alive when everyone is vain
Lost your hopes, and now you fight against depression"
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Sem Título #046

Dai o chefe achou que "x" e "y" cabiam dentro de "a", e mandou o programador fazer assim.

Eis que eu noto que "x" e "y" não cabem dentro de "a", porque são coisas diferentes e chamei o programador pra explicar se estava certo, ou se eu não havia entendido. Nisso o chefe chega e a periguete que senta ao lado e que ouvia a conversa e que não estava participando da mesma chama o chefe e diz:

-Então, chefe, é que EU estava vendo aqui e "x" e "y" não cabem dentro de "a".

Sem mais.

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Sem Título #045

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Sem Título #044

Numa sala, eu peguei um baralho e comecei a montar um castelinho com as cartas. Estava ficando bem bonitinho, ordenado, parecia até bem sólido, pensei que nada poderia derrubar aquele castelinho apesar de tudo.

Dai veio alguém, abriu a porta, entrou e bateu ela com tanta força que tudo estremeceu e o meu castelinho foi ao chão.

Eu comecei a montar meu castelinho novamente, dessa vez, com menos ânimo. Mas eu estava lá, dia e noite montando o maior castelinho de todos os tempos o qual ninguém jamais derrubaria.

Um descuido. 

Um castelinho ao chão novamente, junto com meu ânimo.

E isso de novo.

Over and over again.

Agora, eu tranquei a porta e não deixo ninguém entrar nessa sala. Algumas pessoas batem à porta, mas eu não abro, porque as pessoas são más e podem querer derrubar meu castelinho como já aconteceu milhares de outras vezes.

Algumas o derrubaram sem a intenção e me consolaram com um pedido de desculpa. Outras disseram que a intenção era mesmo essa, já que sabiam que esse castelinho era tudo o que eu tinha. Então tranquei e não abri mais a porta.

Algumas pessoas são insistentes, e eu, vencida pelo cansaço, abri a porta, essas não derrubaram o castelo, e ao contrário, me ajudaram a torná-lo cada vez maior.

Até que alguém foi lá e boom! levou meu castelinho ao chão, pisou nas cartas e saiu.

Devo eu continuar tentando montar meu castelinho de cartas sabendo que a qualquer momento alguém pode destruí-lo novamente, ou devo desistir?

Isso é a vida? Você tentar de forma inocente montar seu castelinho e qualquer babaca chegar e destruí-lo, sem mais nem menos?


(Essa é a fragilidade da vida. Acho que isso se aplica em todas as áreas da minha vida, fazendo com que eu perca oportunidade de conhecer pessoas lindas, fazendo com que eu me afaste das pessoas que não derrubaram meu castelinho, com medo de que isso aconteça.)
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E-mail de Uma Sexta-Feira Dessas Qualquer (Véspera de Feriado...)

"Sexta-feira 17:03 ....
A incrível história de um garoto vagabundo que foi contra todos os seus princípios vadios e começou a trabalhar.



Em uma inesquecível sexta-feira véspera de feriado aguardando o relógio apontar para as 17:30 para finalmente ....












[Suspense]














...Ir para a faculdade e no dia seguinte acordar cedo e também ir para a faculdade.


E ... NÃO será emendado o feriado para este pobre garoto (Pobre, pois até o momento não tinha ganhado na loteria, comprado seu cavalo e sair atirando nas pessoas com arco e flecha) .... ¬¬"
 
TRÁGICO !
"



Gui, amigo, você anima meu dia!

Coisas Que Devem Ser Sempre Lembradas

 'cause when you're sleeping right next to me, i know you're the one
 so when i hear you calling my name, i'll know the good i've done
 i guess that's why is raining diamonds...
 =]

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Sem Título #043

“Solenemente, na presença de Deus e desta assembléia, juro: Dedicar minha vida profissional a serviço da humanidade, respeitando a dignidade e os direitos da pessoa humana, exercendo a Enfermagem com consciência e fidelidade; guardar os segredos que me forem confiados; respeitar o ser humano desde a concepção até depois da morte; não praticar atos que coloquem em risco a integridade física ou psíquica do ser humano; atuar junto à equipe de saúde para o alcance da melhoria do nível de vida da população; manter elevados os ideais de minha profissão, obedecendo aos preceitos da ética, da legalidade e da moral, honrando seu prestígio e suas tradições”.
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Desejo Muito...


Que o mp3 dos telefones celulares tocando funk, pagode, rap, Luan Santana, ou qualquer outro tipo de música inconveniente não funcionasse sem o uso de fones de ouvido ou no mínimo virassem dinamites na mão daqueles que ousam usá-los sem o bendito fone.


Que bolsas das pessoas dos ônibus, metrôs, trolebus desaparecessem quando empurrada na cara daqueles que estão sentados nos bancos destes veículos, porque ó, eu sofro com aquelas pessoas com bolsas enormes que simplesmente jogam ela pra tras sem pensar que ali existem mais pessoas, sabe? Seria legal se as bolsas simplesmente desaparecessem, como mágica. Aposto que essas pessoas pensariam duas vezes antes de fazer essas coisas novamente, já que nem os cartazes indicando que as bolsas devem ser levadas junto ao corpo não funcionam.



Que desodorantes anti transpirante viessem no pacote "ser humano", porque tem gente que acha uma tarefa muito difícil perder 1 minuto do seu tempo pra usá-lo, então quem sabe se não viesse tudo embutido ali quando as pessoas nascessem o mundo não seria melhor?

Que fosse proibido entrar no ônibus ou metrô alcoolizado, porque né, bom senso é fundamental e as pessoas do veículo não deveriam ser incomodadas com o odor (péssimo) de alcool proveniente dessas pessoas.

Que as pessoas não ficassem obstruindo a porta do ônibus se ela não vai descer naquela parada, porque né? Quem nunca perdeu a parada porque ficaram na porta e você não conseguiu descer que atire a primeira pedra.

Que as pessoas soubessem que não estão sozinhas nesse mundo, acho que isso resolveria todos os problemas da humanidade. E os meus.


(Nota: Viver em Sampa é uma lição. Apesar de tudo, I love this place.)
(Nota 2: Esse texto não é uma reclamação, que isso fique claro. É apenas um protesto às pessoas joselitas que habitam essa Galáxia - e acredite, não são poucas).
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Sem Título #042

O grande problema é não saber ter só a metade. Quando eu quero, eu quero tudo, uma parte só não me interessa. Eu quero tudo.
As coisas funcionam assim pra mim também, na hora de ser. Eu não sou metade, eu sou completa. E é justamente por isso que eu sempre sou feita em pedaços, porque as pessoas não são completas, não elas não são. Eu sou, e eu quero isso em troca, acho que não é pedir demais. Eu sou assim e pra mim não é algo difícil, creio que não seja para os outros também. E eu sempre espero. E as pessoas sempre me decepcionam e me fazem em pedaços.
Eu me faço em pedaços. 


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David After Dentist

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Seja Um Grileiro

Um vídeo muito engraçadinho que encontrei no site do Green Peace dia desses.


There comes a point in every fight, where giving up seems the only way...








I'm trying, I swear

A Ponta do Nariz

"Nariz, consciência sem remorsos, tu me valeste muito na vida...
Já meditaste alguma vez no destino do nariz, amado leitor? A explicação do Dr. Pangloss é que o nariz foi criado para o uso dos óculos - e tal explicação confesso que até certo tempo me pareceu definitiva; mas veio um dia em que, estando a ruminar este e outros pontos obscuros de filosofia, atinei com a única, verdadeira e definitiva explicação.
Com efeito, bastou-me atentar no costume do faquir. Sabe o leitor que o faquir gasta longas horas à olhar para a ponta do nariz, com o fim único de ver a luz celeste. Quando ele finca os olhos na ponta do nariz, perde o sentimento das coisas externas, embeleza-se no invisível, apreende o impalpável, desvincula-se da terra, dissolve-se, eterniza-se. Essa sublimação do ser pela ponta do nariz é o fenômeno mais excelso do espírito, e a faculdade de a obter não pertence ao faquir somente: é universal. Cada homem tem necessidade e poder de contemplar o seu próprio nariz, para o fim de ver a luz celeste, e tal contemplação, cujo efeito é a subordinação do universo a um nariz somente, constitui o equilíbrio das sociedades. Se os narizes se contemplassem exclusivamente uns aos outros, o gênero humano não chegaria a durar dois séculos: extinguia-se com as primeiras tribos.
Ouço daqui uma objeção do leitor: - Como pode ser assim? - diz ele -, se nunca jamais ninguém não viu estarem os homens a contemplar o seu próprio nariz?
Leitor obtuso, isso prova que nunca entraste no cérebro de um chapeleiro. Um chapeleiro passa por uma loja de chapéus; é a loja de um rival, que abriu há dois anos; tinha então duas portas, hoje tem quatro; Promete ter seis e oito. Nas vidraças ostentam-se os chapéus do rival; pelas portas entram os fregueses do rival; o chapeleiro compara aquela loja com a sua, que é mais antiga e tem só duas portas, e aqueles chapéus com os seus, menos buscados, ainda que digo ao preço. Mortifica-se naturalmente, mas vai andando, concentrado, com os olhos para baixo ou para a frente, a indagar as causas da prosperidade do outro e do seu próprio atraso, quando ele chapeleiro é muito melhor chapeleiro do que o outro chapeleiro... Nesse instante é que os olhos se fixam na ponta do nariz.
A conclusão, portanto, é que há duas forças capitais: o amor que multiplica a espécie, e o nariz, que a subordina ao indivíduo. Procriação, equilíbrio."


Machado de Assis
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Sem Título #041

Eu cheguei do trabalho a noite com a boa notícia de uma promoção, finalmente aquele maldito resolveu reconhecer o meu trabalho e me deu um aumento e um cargo mais digno para que alguém que se matou durante 4 anos numa faculdade de merda.

Era um terça-feira quando ela foi embora, mas quando cheguei, tudo o que encontrei foi uma carta num envelope preto cuidadosamente colocado sobre a mesa do computador.

Ela dizia que assim, sem se despedir era melhor, "pra evitar me machucar" ela disse - Porra, mas será que ela não viu que eu já estava assim, por causa dela? Se não queria me machucar, por que é que foi embora?

Eu sentei incrédulo com  a carta na mão, li e reli aquilo muitas vezes, sem querer acreditar que isso novamente estava acontecendo.

Ela sempre disse que um dia ia se cansar de tentar me compreender, mas eu nunca dei muita bola, porque afinal, sempre achei que ela me amasse. Depois de 5 anos, ela fez o que vinha apenas prometendo durante todo esse tempo. 


Eu queria só uma chance pra me humilhar e pedir pra ela não ir. Chorar é sempre uma boa maneira de conseguir as coisas, e não é só quando somos crianças, quando adultos isso também funciona. Ainda mais com ela, que quando via alguém chorando se acabava de chorar também, ela sempre foi bem emotiva, dizia que quando alguém chorava tudo o que queria é fazer parar a dor da pessoa, nem que para isso tivesse que prometer o céu ou inferno. Então eu sei que se tivesse a chance de chorar, ela ficaria. Talvez ela soubesse disso e por isso não tenha se despedido.
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Life For Rent


Eu sempre pensei que adoraria viver perto do mar
Viajar o mundo todo sozinha
E viver da forma mais simples
Eu não tenho idéia do que aconteceu com esse sonho
Porque não há mais nada aqui para me impedir
É apenas um pensamento

Sem Título #040


Foi engraçado. Eu estava sentada no banco da parada. No outro lado da rua, tinha um casalzinho jovem. 

Provavelmente estavam esperando o ônibus pra ir pra escola. Estava virada diretamente pra eles, de óculos escuros, escorada na parede. Conversa vai, conversa vem, a moça aponta pra mim, e ele faz um sinal negativo com a cabeça. Eles continuam conversando, um pouco mais calorosamente agora, alguns minutos depois começam a brigar. Ela parece brava com ele, ele tentando se explicar. 

Logo vem o ônibus deles, e ambos sobem, mas dá pra notar que não sentaram juntos.

Se tivesse ocorrido a chance de eu falar com ela, teria explicado que era impossível eu conhecer ele, porque não conheço ninguém nesse lugar. E também que tampouco eu estava olhando pra ele, apesar de parecer que era isso que estava fazendo. Mas não havia como explicar, simplesmente porque eram sete horas da manhã de um dia muito gelado, e eu já estava morta há pelo menos umas 4 horas.


Sem Título #039

Cada mês nós fazemos estágio num lugar diferente, hospitais, pronto-socorros, clínicas e dessa vez, fomos pra um CAPS (Centro de Apoio Psico Social).

O primeiro sentimento que tive ao entrar no CAPS foi de medo. Porque eu realmente não sabia o que me esperava.

Ficamos na ala masculina, que era formada por dependentes químicos e esquizofrênicos.

Tenho lembranças que seriam cômicas, se não fossem ao mesmo tempo trágicas. A maioria são apenas trágicas.

Eu lembro que estávamos fazendo o reconhecimento de campo ainda e a psiquiatra estava conversando com um dos internos. 14 anos, fumava crack desde os 8 anos e estava olhando para a grande parede de vidro que ficava na sala de recreação. 

As respostas que ele dava à psiquiatra se resumiam em movimentos positivos ou negativos com a cabeça. Os olhos sempre voltados para a porta de vidro. Em meio a análise:

-O que você tanto está olhando lá fora, Danilo? - perguntou a psiquiatra
Silêncio.
-Tem alguma coisa lá fora? - insistiu e dessa vez ele acenou positivamente com a cabeça.
-O quê?
-A minha avó.

Detalhe: não tinha nada lá fora.
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Sonho Parece Verdade Quando a Gente Esquece de Acordar

Eu era amiga de uma moça bem gordinha e morena, bem morena.

Ela estava morrendo, uma doença que eu tive medo de perguntar, e  pediu que eu fosse com ela à um presídio para que se despedisse de uns amigos, pois ela sabia que iria morrer em breve. E eu fui.

Estranhamente ela tinha a chave dos portões, que após entrarmos, trancou-os por dentro e jogou a chave no chão, num canto qualquer daquele corredor cheirando sangue e mofo.

A vontade era de sair correndo, de volta pra luz, pra qualquer lugar longe.

Ela foi na cela de seus conhecidos e eu a acompanhava, com um misto de nojo e medo, eu estava lá porque eu prometi que iria acompanhá-la, porque eu não podia negar nada à uma pessoa que ia morrer.

E a chave ali no canto.

Eu pensei na minha vida. Eu ali, com alguém que  eu gostava muito, presa num lugar desagradável, escuro e cheio de vidas mortas. Mas as chaves estavam ali, só cabia a mim, abrir os portões e sair.

No meu sonho, eu não abri os portões. 

No meu sonho, eu não sai.
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acho que me perdi numa excursão que fiz pra lua

Dai que eu chamei meu chefe de estúpido, na frente dele. 

Eu disse que não ia dar a resposta que ele merecia porque eu tinha educação e só respondi isso: estúpido, com todo o desprezo que tem em mim.

Depois me deu uma vontade imensa de chorar, mas eu não ia fazer aquilo ali, na frente dele depois de ter sido bruta, porque na verdade eu só me faço de forte.

Sem Título #038

Eu não gosto de fazer escolhas, tomar decisões.
Porque se algo dá errado a culpa é nossa, não tem em que colocar a culpa e não podemos nos fazer de vítimas, porque a dor foi causada por nós mesmo.

O grande problema disso é que tudo é uma roleta russa. Às vezes você acerta, mas um dia você pode errar e as consequências podem ser graves.
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Sem Título #037

Um dia desses por aí:


-Já foi no banheiro chorar?
-Não vou. Tenho que fingir que sou forte.

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And when you think it's all over, It's not over

Existem algumas pessoas com as quais se conversa 5 minutos e já se sabe tudo sobre sua vida. É o tipo mais comum de pessoa que existe. Não há nenhum problema com esse tipo de pessoa, já que além de elas serem a grande maioria, elas se dão bem em qualquer ocasião, já que em todo lugar existe alguém interessado na novela que está passando ou no valor acumulado da mega-sena.
Existe um outro tipo mais raro de pessoas, que apesar de parecer comum à primeira vista, na verdade não é. É o tipo de pessoa não se conhece em 5 minutos, mas em 5 minutos se percebe que é muito mais do que aparenta ser. São pessoas difíceis de encontrar porque uma das características dela é pensar que é menos do realmente é, e também porque elas não sabem que novela esta passando nem o valor acumulado da mega-sena, acabam ficando distante das outras pessoas.
Essas pessoas parecem sempre tristes, mas na verdade elas apenas não combinam com qualquer outro tipo de pessoa, mas basta elas encontrarem alguém semelhante (ou um livro encontrado em um sebo, ou ouvir a música preferida no rádio...) para abrirem aquele sorriso lindo e se encherem de uma alegria tão imensa que é quase irreal.

Sem Título #036


Sem Título #035

Eu estava mexendo na bagunça da minha bolsa procurando dinheiro e encontrei um dente de alho.


Um-dente-de-alho-dentro-da-minha-bolsa.


Não faço ideia de onde veio, a propósito, nem sei quantos anos fazem que eu não via um dente de alho nessa vida.
Acho que alguém ficou com dó de mim por causa dos desses últimos dias de cão que tenho vivido e colocou ele lá.


Minha vida é uma piada.
Eu sou uma piada.


Fim.
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Sem Título #034



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Sem Título #033

Minha mãe me disse ontem que eu sempre fui uma boa menina. Mas acho que ela me enganou porque hoje estou pagando por todos os meus pecados*


*que segundo ela não foram cometidos
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Sem Título #033

A gente tem vontade de dizer algo, mas sabe que qualquer palavra pode destruir tudo com facilidade que um sorriso construiu. E você acha que a culpa não é sua, nem da outra pessoas. Mas de quem então? Das circunstâncias talvez? Talvez só estejamos num dia ruim. Talvez.


E fico naquela de "digo ou não digo?" e essa parece ser uma pergunta que vai matando aos poucos e vem aquele aperto no peito, aquela dor no estômago, as mãos formigam e tudo o que se sabe fazer é não dizer nada.



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Sem Título #032

O que fazer quando o que mais te chateia é também o que mais te faz feliz?
Será que ao menos uma coisa nessa vida não pode dar certo por inteiro?
Será que é pedir demais?
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Sem Título #031



Todos os dias eu pego o mesmo ônibus pra voltar da aula e sempre vejo as mesmas pessoas, sempre. Uma dessas pessoas é uma menina que não é menina. Bem, ela é lésbica, suas roupas e modos a denunciam. Ela sempre fica sentada perto do cobrador conversando e rindo muito com ele.
Segue o breve diálogo de ontem:


-Meu, eu gosto tanto, mas tanto de mulher que eu até nasci uma.
-Eita mano, será que eu não gosto tanto de mulher assim?



Sem Título #030

Se você acha uma pessoa o máximo, demais, a pessoa mais foda desse mundinho, nunca, jamais, de forma alguma procure pelo nome dela no Google, porque os resultados podem ser decepcionantes e você corre o risco de ser chamada de louca por não se importar, supostamente de uma hora pra outra. E acreditem, tem coisa que é melhor não saber sobre determinadas pessoas.
Estejam avisados.
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Sem Título #029

"Calma, você começou essa semana" - Pois é, comecei essa semana e todos já sabiam q eu não conseguiria, exceto eu.
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Sem Título #028

Vivia no escuro e sozinha.
Acostumara-se a isso. A luz nos olhos fazia sua cabeça doer. A companhia de outras pessoas lhe fazia sentir-se... crua!
Tua companhia durante todos esses anos fora a sua dor e suas mágoas que a fazia gritar por dentro a cada memória, a cada momento revivido, pois cutucar essas feridas era tudo o que sabia fazer.
Perambulava pela casa a noite, no escuro enquanto os outros dormiam. Sentia medo, não sabia de que. Talvez de si mesma, de encontrar um espelho que a refletisse no percurso noturno, pois se conseguisse se enxergar através dele, com certeza  gritaria e acordaria todo mundo, se assustaria consigo mesma. Tinha medo. As pessoas normalmente tem medo daquilo que não conhecem, e ela não se conhecia.
A chamariam de louca se vissem suas andanças pela casa escura. Mas isso não era loucura. Era ansia por respostas.



Sem Título #027

...Ela é estranha. Desce pela garganta amarga e com uma consistência tão nojenta que nos faz querer vomitar.
Mas quando ela finalmente passa e chega ao nosso estômago, sentimo-nos aliviados, nos faz ver que era exatamente isso que precisávamos, que isso que mata a nossa fome e que é inevitável engolí-la. Ela, a vida, por mais ruim que seja...



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Sem Título #026

Estava caindo numa tristeza sem dor, não era mal, fazia parte com certeza. No dia seguinte provavelmente teria alguma alegria, também sem grandes êxtases, só um pouco de alegria e isso também não era mal. Era assim que ela tentava compactuar com a mediocridade de viver. Mas era tarde, ela ansiava por novos êxtases de alegria ou de dor. Tinha era que ter tudo o que o mais humanos dos humanos tinha. Mesmo que fosse a dor ela suportaria, sem medo novamente de querer morrer. Suportaria tudo. Contanto que lhe dessem tudo. Não. Ninguém lhe daria. Teria que ser ela própria a procurar a ter.
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Eutanásio

00:10
    -Acorde, Eutanásio.
Eutanásio. Homem comum, trabalhador, pai de família, vota no PT e torce pro Caxias.
    -Vamos lá, Eutanásio.
Ele se levanta.
    -Agora, vá até o banheiro, Eutanásio. Mas não faça barulho, ninguém pode ver.
Ele calça as havaianas, e vai, pé ante pé, sem fazer barulho. Eutanásio é muito cuidadoso.
    -Muito bem, muito bem. Agora faça, Eutanásio.
Ele hesita por um momento.
    -Vamos lá, eu sei que você consegue.
Então, ele levanta o pé, mete dentro da privada e dá a descarga.
    -Muito bem, Eutanásio! Eu sabia que você conseguiria! Agora, volte pra cama antes que percebam algo.
Ele volta pra cama, com um sorriso de orelha à orelha estampado no rosto.
Isonilda, a esposa, sente algo gelado nos pés.. ou seria úmido? Bobagem. Deve ser um sonho. Ela volta à dormir.


 00:09
    -Acorde, Eutanásio. Já sabe o que fazer.
Ele se levanta, calça as havaianas, e vai até o banheiro, pé ante pé. Chega no banheiro, mete o pé na privada e puxa a descarga.
    -Eutanásio, a noite passada a sua esposa desconfiou. Temos que ser mais cuidadosos.
Ele pensa por um minuto. Então, pega uma toalha de rosto branca e seca o pé nela. No outro dia, a empregada acha meio estranho a toalha estar manchada de azul, mas ela não diz nada. Afinal, eles nunca atrasam o pagamento, passam o dia fora e Isonilda sempre compra os produtos da Avon que ela vende, então não há do que reclamar.


00:10
    Eutanásio está na cama, mas não consegue dormir. Ele fica esperando, e nada. 00:30, quinze pra uma..e nada. Quando já é uma hora...
    -Desculpe o atraso, Eutanásio. Tive alguns contratempos. Mas vamos lá, já estamos atrasados.
Ele não se mexe.
    -Ora, vamos, o que é isso? Você ficou chateado?
Nada.
    -Tudo bem. Desculpe. Não vai acontecer de novo, ok? Agora vamos, por favor?
Ele se levanta, com um imperceptível sorriso no canto da boca. Vai até o banheiro, mete o pé na privada, puxa a descarga, mas... Algo acontece! A empregada não deixou toalha no banheiro!
    -Pense rápido, Eutanásio!
Ele se dirige à cozinha e pega um pano de secar pratos, que está sobre a mesa, e seca o pé nele.
    -Nossa, essa foi por pouco hein? Acho melhor pararmos por um tempo, está ficando cada vez mais arriscado.
Mas essa é a melhor parte. Eutanásio gosta de viver perigosamente.
    -Não podemos ser descobertos. Se houverem testemunhas, teremos que tomar atitudes drásticas.
Ele se convence. Eles vão dar um tempo.
No outro dia, na hora do café, estão Lucicleide, a esposa, e Marinalda, a filha do casal.
    -Mãe, o pai tá fazendo aquelas coisas estranhas.
    -Mas de novo? ele não tinha parado?
    -Sim, mas eu sempre escuto ele indo no banheiro de madrugada.
    -Ora, mas o que tem de mal em ir no banheiro de madrugada?
    -É que ele sai de lá rindo.
    -Acho que vou dizer pra empregada pôr menos alho na comida.
No outro dia, a voz não vem. E nem no próximo. E ele se sente orgulhoso de si.


CONTINUA...
Por Moço do Cadarço Desamarrado


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Sem Título #025

Ela já deveria ter se acostumado com isso. Afinal, sua vida sempre foi dessa forma, cheia de perdas. Sempre. Desde quando ainda era uma pequena criança.

Sua 1º experiência com perdas aconteceu aos 5 anos. Um walkman à pilhas que havia ganhado de sua avó. Ela costumava sentar dentro de caixas velhas com o fone no ouvido tocando qualquer canção tosca de alguma fita k7 de seus pais. Semanas depois, seu discman estragou sem motivo aparente e ela teve de se desfazer dele, com lágrimas aos olhos, pois ela adorava aquilo. Sentia-se num cantinho só dela dentro daquelas caixas.

Aos 6 anos, outra grande perda, seus pais já não estavam se dando mais tão bem como antes e sua mãe foi embora de casa, puxando ela e sua irmã, um ano mais nova, pelo seus bracinhos ossudos. Assim perdeu o seu pai, uma peça muito importante para o bom desenvolvimento de uma criança.

Por alguns anos as coisas correram bem. Bem demais para ser verdade.

Sua mãe, mulher bonita arrumou um namorado. Um cara legal. Um cara muito legal, mais legal que o seu próprio pai. (Ah, um adendo: demorou um bocado para que ela descobrisse isso, mas enfim...). Esse cara era tão legal que ela não mais sentia falta de seu pai, mas aí, ele se foi. Porque ela era a menina das perdas. Um infarto o levou para nunca mais voltar.

Quando virou adolescente, começou a gostar de coisas estranhas, influência de sua amizade com cabeludos-metaleiros-heavy-metal-from-hell-yeah! e pessoas do gênero. O cemitério era o lugar mais tranquilo desse mundo para a jovem perdedora, pois ali ela podia ficar sozinha e pensar na resposta para a vida, o universo e tudo mais. Sua mãe, quando descobriu os caminhos escuros pelos quais a sua primogênita andava quase morreu do coração, é claro. Não conseguindo corrigí-la, mandou-a para a casa de seu pai, agora casado e morando em outra cidade. Essa foi uma de suas maiores perdas. Foi-se mãe, irmã, conhecidos de infância e a resposta para a vida, o universo e tudo mais, que anos mais tarde ela viria a descobrir no google.

A nova cidade era legal, diferente de seu relacionamento com a nova família, pois este, não era lá grande coisa, e vinha ficando pior a cada dia.

Coisas como estudar na melhor escola da cidade, comer em restaurantes caros com certa frequencia e fazer algumas viagens ao longo do mês poderia ser algo que satisfaria muitos, mas não aquela garota, agora com 14 aninhos e muitas perdas pela frente. Ela foi se afastando de sua 'família' até não sobrar ninguém. A única pessoa com a qual ela conversava era um garoto que morava longe e sua psicóloga. De resto, seus relacionamentos se resumiam a 'oi' e 'até mais'.

O tempo passou rápido e quando ela completou 18, saiu de casa, abandonando as coisas, antes que as coisas a abandonasse. Uma amiga lhe apresentou uma mulher com a qual a pequena loser morou os 6 meses seguintes, até se 'casar'.

Hoje ela esta por ai, oculta entre os 41.384.000 rostos dessa São Paulo. Sua última perda entre tantas outras não citadas, foi o emprego que ela abandonou há quase 3 meses. Tudo o que lhe resta é o namorado e 2 felinos de estimação. Sua sanidade, postura e todo os resto se foram há tempos.

Torçam para que ela não perca também tudo o que ainda lhe resta.


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