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Se Puder Sem Medo

“Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa, a porta entreaberta,
O lençol amarrotado, mesmo que vazio,
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa, eu mesmo silencio,
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar, eu finjo que esqueço,
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir, fechando atrás da porta,
Deixa o que não for urgente, que eu ainda preciso,
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço, qualquer coisa, aviso,
Deixa o que fingiu levar, mas deixou de surpresa,
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora, a dor no coração se expande,
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade, é tudo que me resta,
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor, ao menor vento oscila,
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa.”
(Por Oswaldo Montenegro)

Ás vezes não te dá uma vontade de chorar?
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Sem Título #006

O silêncio continuava.
O único som era o da tua respiração.
E o do seu choro incessável.
O ar cheirava a mofo...e a morte.
O corpo sob a maca continuava intacto.
E ela continuava esperando...
Esperando que algo acontecesse...
A sanidade havia lhe abandonado.
Ela estava perdida
Sua sanidade era a única coisa que possuía e agora estava sem ela
A única coisa que possuía naquele momento
Era aquele corpo frio
E uma lâmina que lhe abria caminhos sangrentos nos punhos
Ela não queria nada além dele
Ouvir-lhe
Sentir-lhe
A pessoa a lhe dar prazer
A sentir teu gosto, teu cheiro...
Cheiro de morte...
A 3 dias exposto
Havia o formol que costumava passar nas borboletas mortas que colecionava
Mas não foi o suficiente
O cheiro estava insuportável
Algo precisava ser feito...
E algo foi feito.....
Precisava pensar rápido
Tres dias já havia se passado
E ela continuava ali
Sem saber o que fazer.
Ouviu passos na escada
Não queriam ser descobertos
Não naquele momento
Algo ainda precisava ser feito...
Deito-se ao lado dele
Aquele que antes lhe aquecia
Agora estava frio,
E cheirava mal
Ouviu uma voz
Que chamava pelo teu nome
Não sabia de onde vinha...mas havia
Choros, gritos e vozes a rodeava
A lâmina correu-lhe o pescoço
As vozes cessaram
Assim como o choro compulsivo
A respiração desapareceu
Apenas o cheiro
Cheiro da morte...

Macacos

“Há bilhões de galáxias que se pode observar no universo. E em cada uma delas contém centenas de bilhões de estrelas. Em uma dessas galáxias, orbitando em uma dessas estrelas, existe um pequeno planeta azul. Este planeta é governado por um bando de macacos, mas esses macacos não pensam em si mesmos como macacos, eles nem se quer pensam em si mesmos como animais. De fato eles adoram fazer listas de coisas que eles acham serem diferentes dos animais: polegares opositores; autoconsciência... Eles usam palavras como Homo Erectus e Australopithecus.
Você diz "to-ma-ti" e eu digo "to-ma-te". Eles são animais, certo?
Eles são macacos.
Macacos com tecnologia de fibra ótica digital de alta velocidade, mas ainda são macacos. Quero dizer, eles são espertos, você tem que aceitar isso.
Construíram as pirâmides, os arranha-céus, os jatos, a Grande Muralha da China. Isto tudo são obras muito impressionantes...Para um bando de macacos!
Macacos cujos cérebros evoluíram para um tamanho ingovernável que agora é insustentável para eles ficarem felizes por muito tempo.
Na verdade eles são os únicos animais que acham que deveriam ser felizes. Todos os outros animais, simplesmente são! Mas não é tão simples para os macacos... Pois os macacos são amaldiçoados pela consciência!
E assim os macacos têm medo, os macacos se preocupam, os macacos se preocupam com todas as coisas, mas acima de tudo se preocupam com o que todos os outros macacos pensam, porque os macacos querem se enturmar desesperadamente com os outros macacos. O que é bem difícil, porque a maior parte dos macacos se odeia. Isso é o que realmente os distingue dos outros animais.
Esses macacos odeiam, eles odeiam os macacos que são diferentes, macacos de cores diferentes, macacos de lugares diferentes.
Sabe, os macacos se sentem sozinhos, todos os seis bilhões deles. Alguns dos macacos pagam outros macacos para ouvir seus problemas, os macacos querem respostas, os macacos sabem que vão morrer, então os macacos constroem os seus deuses e os idolatram, então os macacos começam a discutir quem fez o deus melhor. E os macacos ficam irritados e é quando geralmente os macacos decidem que é a hora certa de começar a matar uns aos outros, então os macacos fazem guerra, os macacos fazem bombas de hidrogênio, os macacos têm o planeta inteiro pronto pra explodir, os macacos não podem fazer nada por isso.
Alguns os macacos tocam para uma multidão vendida de outros macacos, os macacos fazem troféus, então eles os dão uns aos outros, como se isso significasse algo.
Alguns dos macacos sabem de tudo, alguns dos macacos lêem Nietzsche, os macacos discutem o seu ponto de vista sobre Nietzsche, sem dar consideração ao fato de que Nietzsche era só outro macaco.
Os macacos fazem projetos, os macacos se apaixonam, os macacos fazem sexo e então fazem mais macacos. Os macacos fazem música e então os macacos dançam..
DANCEM MACACOS, DANCEM!
Os macacos fazem muito barulho, os macacos têm tanto potencial, se ao menos se conhecessem...
Os macacos raspam os pêlos de seus corpos numa ostensiva negação de sua verdadeira natureza... De macaco!
Os macacos constroem gigantes colméias de macacos que eles chamam de cidades, os macacos desenham um monte de linhas imaginárias na Terra, os macacos estão ficando sem petróleo que movimenta a sua precária civilização.
Os macacos estão poluindo e saqueando o nosso planeta como se não houvesse o amanhã.
Os macacos gostam de fingir que está tudo bem, alguns dos macacos acreditam que o universo inteiro foi feito para o seu próprio benefício, como você pode ver, esses macacos são mesmo confusos.
Esses macacos são ao menos tempo as mais feias e as mais belas criaturas do planeta. E os macacos não querem mais ser macacos, eles querem ser qualquer outra coisa, mas NÃO SÃO!"

(Texto furtado de um dvd apresentado numa aula de geografia do 3º bimestre, ano passado)

Don´t Panic

"O principal problema dos principais problemas, pois são muitos -, um dos principais problemas em governar pessoas, está em quem você escolhe para fazê-lo. Ou melhor, em quem consegue fazer com que as pessoas deixem que ele faça isso com elas.

Resumindo: é um fato bem conhecido que todos os que querem governar as outras pessoas são, por isso mesmo, os menos indicados para isso. Resumindo o resumo: qualquer pessoa capaz de se tornar presidente não deveria, em hipótese alguma, ter permissão para exercer o cargo.


Resumindo o resumo do resumo: as pessoas são um problema.

Então esta é a situação que encontramos: uma sucessão de presidentes galácticos que curtem tanto as diversões e bajulações decorrentes do poder que muito raramente percebem que não estão no poder.


E, nas sombras atrás deles – quem?


Quem ode governar se ninguém que queira fazê-lo pode ter permissão para exercer o cargo?



(De "O Restaurante do Fim do Universo", o segundo livro da série "O Guia do Mochileiro das Galáxias").


P.S: Qualquer semelhança, é mera coincidência, sim, sim, apenas coincidência.
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Sem Título #005

...E se encontrava pensando em coisas tolas
É como se ela não tivesse vida própria desde que o encontrara
Como se a partir daquele momento mágico a sua vida passasse a pertencê-lo.
Não tinha mais vontades, opiniões e nem sentimentos quando ele não estava por perto para alimentar a sua existência.
Sabia o porque de ele tratá-la agora com desdém e frieza. Não fora essa garota que ele conhecera naquela rodoviária, fora uma pessoa que não dependia de ninguém para nada, e era essa pessoa agora que voltava ao mundo.
Ela estava ali parada, a paisagem linda da praça a fizera pensar sobre a vida, agora sem ele...
(Este post estava no meu blog antigo, que eu excluí...)





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